Estou no sexto capítulo.
Finalizei ontem.
Só costumo começar a escrever quando tenho algo, minimamente, estruturado.
Preciso saber, de antemão: como a cena vai se relacionar com o todo; se posso desenvolver mais sobre determinados personagens. Defino linhas de ação; estabeleço objetivos, tento entremear mais de um, em geral, cruzando linhas.
Evidente que gosto de me surpreender, de ser, no instante em que sou leitor também, instado a mudar ou abrir uma outra janela, a não saber o que virá a seguir.
E isso já aconteceu. O caso mais evidente disso se dá no primeiro capítulo.
Quis compor um cenário e pus uma personagem figurante.
Só que ela apareceu com tamanha força que ganhou um papel de maior relevância e acabou catalisando o que eu realmente queria para a subtrama, que, a meu ver, tem de ser tão eficiente quanto a principal.
E aqui cumpre uma explicação.
O romance que escrevo deriva de uma novela de vingança já escrita por mim.
Precisava de tramas paralelas e, sobretudo, um outro fio correndo espelhado ao que eu já havia composto e para onde o meu final se desenhava.
***
Como não esfregar uma metáfora na cara do leitor?
Como não expor o truque e o feitio de um símbolo?
Como, literalmente, distrair a atenção do que é mais importante, soterrando-o como algo sem tanto alarido e valor?
Penso, sempre, no teatro; na arte de justificar, com motivos plausíveis, o aparecimento de uma arma que, é lei da carpintaria de palco, só ocorre porque há de desempenhar um uso.
Então, se meu objetivo é matar, no meu caso bem específico da cena que me empacou, mostrar um elemento que simbolize a identidade do meu personagem, filho do Pai Vingador, identidade cindida, e que vai abrir uma vereda, uma jornada para o filho, eu preciso fazer com que essa arma que apareça seja verdadeira, soe e funcione para além de sua metáfora.
Eu tenho uma tentação inicial.
A de colocar nosso filho em um prostíbulo.
A meu favor, para esta opção, tenho o fato de que a mãe de nosso personagem trabalhou em um quando jovem. O que me falta é um argumento plausível para levá-lo lá. Ainda não tenho. E preciso disso pra começar a escrever.
Sim, costumo ir à praia e entre um mergulho e outro as ideias me vêm; a longa caminhada de volta, Cabo Branco – Tambauzinho também ajuda.
Com essa chuva fica difícil pensar.